fevereiro 25, 2008

Capítulo 8º - A doce Margot

Temendo pela segurança de seu aprendiz, Lucian preferiu dormir no quarto de Caio. Quando Zychnyr sentisse o sangue de outro vampiro correndo no corpo de Lila, ele ansiaria por vingança. Um assassino experiente como Zayed só seria capturado durante seu sono, quando não estaria alerta. Baudelaire fechou as cortinas e sentou-se na poltrona ao lado da cama, deixando seu protegido ocupar o caixão que estava dentro do closet. Nada aconteceu, o dia foi calmo e logo a noite adentrou-o sem aviso.
O governante francês vestiu sua melhor roupa e se preparou para encontrar Zychnyr. Primeiro teria uma audiência com três vampiros anciões, depois iniciariam as ações de retomada do Estado. Ao fim da escadaria principal ele encontrou seu anfitrião:
- Meu doce Lucian, confesso que estava ansioso para vê-lo esta noite. Temos um trunfo, algo que lhe deixará satisfeito. Os anciões foram exonerados por Zilan. Eu os abriguei nesta casa. Não há mais obstáculos, toda a Inglaterra deve estar contra meu irmão, precisamos apenas garantir que o mago não nos prejudique.
- Zilan enlouqueceu – diz Baudelaire surpreso – Destronando os três conselheiros e se tornando o único influente no governo ele coloca Margot contra o juramento real. Ela não desonrará a coroa de Satidus, os três vampiros milenares foram nomeados pelo fundador do clã, ela os protegerá. Por outro lado, deve garantir que Zilan permaneça vivo.
- De qualquer forma, ainda desejas conversar com os anciões?
- Sim, não posso transgredir as regras do Estado, precisarei destes senhores mais tarde.
- Então me acompanhe.
- Esperem senhores – Caio desce as escadas apressado – Espero não tê-los atrasado muito. Peço desculpas pela minha indisciplina. Fui atrasado, pois ao despertar dei-me conta de que todas as minhas armas haviam desaparecido. Por sorte minha katana fica sempre acoplada ao meu corpo.
Lucian intimida Zychnyr com um olhar severo. Ele podia sentir o sangue do inglês correndo cada vez mais rápido, o coração disparando e suas mãos suando, as pupilas dilatavam. Há cem anos essa ofensa seria motivo suficiente para decapitar Zychnyr com suas próprias mãos e ninguém ousaria questionar seus atos. O tempo o tornara mais paciente:
- Deveria cuidar para que seus convidados sejam recebidos de forma mais adequada – diz Lucian – Espero que não tenhamos outro contratempo como este. E, obviamente, com toda a tua educação inglesa, tu providenciarás para que os objetos pessoais de meu amigo sejam recuperados.
- Claro, sir Baudelaire. Também providenciarei para que o ladino tenha sua mão direita amputada – responde Zychnyr.
- Prossigamos, senhores! A noite urge e não posso mais esperar para tomar-mos este país – diz Caio.
- Sir, talvez essa conversa devesse ser particular – ousa o petulante Braddock.
- Quando Vicious confiou Caio aos meus cuidados, pediu-me para ensinar-lhe tudo sobre guerras – irrita-se Lucian – Eu digo que estas serão as melhores aulas que ele receberá. Além disto, meu aprendiz preserva a minha integridade.
Prosseguiram até a sala onde os anciões os aguardavam. Zychnyr ia à frente, contrariado. Ele abre a porta. Dentro do cômodo estavam sentados três homens muito distintos. O primeiro era Aniar, um senhor de quarenta e cinco anos, cabelos grisalhos e olhos penetrantes, este era o mais dos conselheiros. O segundo era o justo Solmir, o mais honesto. Tinha estatura baixa e era bastante corpulento. Os cabelos castanhos presos por um laço deixavam seu rosto peculiarmente arredondado. Entre eles, o único com quem Lucian deveria ter cuidado era o terceiro.
O malicioso Malachai possuía, sem duvidas, punhos de ferro e não aceitava decisões que não lhe garantissem alguma vantagem. Seus olhos pareciam dois faróis que sugavam aqueles que encontravam no caminho, deglutindo-os e entranhando em suas ações ambiciosas. Curiosamente, havia boatos de que ele enlouquecera nos últimos anos. A aparência não lhe garantia muitos favores, era um albino de estatura baixa, o que intrigava os vampiros da época, que eram bastante preconceituosos. Não sabiam como um outro vampiro seria capaz de escolhê-lo como cria.
Baudelaire os cumprimenta. Zayed fica próximo à porta observando tudo. Solmir inicia sua ladainha, que tinha a fama de ser enfadonha:
- Acredito que o senhor nunca tenha nos visto tão humilhados, lorde Baudelaire. Sempre tivemos desentendimentos com máster Satidus, mas nunca fomos escorraçados da fortaleza de York.
- Fico desconsolado ao pensar nisto – Lucian veste sua máscara mais convincente – É terrível o fato de um nobre desrespeitar as tradições e o bem estar de seu país. Eu lhes devolverei o controle de vossa pátria e colocarei Zychnyr em seu devido lugar.
- Não será tão simples – Malachai se levanta – Eu tomei a liberdade de convidar a única pessoa que possui o poder de julgar-nos. Zayed, por favor, abra a porta.
Calmamente, Caio abre apenas um lado da porta. Primeiro entram duas mulheres vestidas com longas túnicas brancas de uma transparência admirável. Não pareciam européias, a cor de suas peles era rubra e os cabelos de um negror intenso. Uma carregava um pote com óleo de calêndulas que respingava ao chão, a segunda carregava uma travessa com pétalas negras. Em seguida irrompe à porta uma menina de aproximadamente doze anos usando um grande vestido negro que lhe cobria todo o corpo. Os pés estavam descalços, acompanhando seus passos, era possível ver o branco névoa pisar as flores destruindo-as. Os cabelos repartidos em duas tranças caiam ébano até a altura dos seios pouco desenvolvidos. Os olhos eram opacos, totalmente negros. Usava luvas de renda e um grande medalhão ostentando o olho de Rá.
Todos ajoelharam, exceto Lucian. A criança se aproxima, curva-se e beija-lhe os pés. O olhar perdido busca esperança na fronte do vampiro. Ela segurou-lhe as mãos e, transpondo sua dor para a face infante, desabafou:
- Senhor Baudelaire, sabes que nunca tive um mestre. Minha magia e sombra nasceram comigo, Satidus apenas as libertou. Faz-te meu mestre, ao menos neste momento, ensina-me o certo. Eu jurei proteger a Inglaterra, como posso traí-la?
- Levanta-se – Baudelaire a ajuda a levantar – Não me perguntes sobre o certo ou errado, não há como ser justo. Este mundo me coloca sentado em um trono enquanto tu estás a minha frente disponibilizando seus serviços, eu deveria implorar para tê-la ao meu lado.Confio em teu julgamento.
- Zilan colocou nossa segurança em risco, nos traiu, mas ainda é o herdeiro inglês. Destrone-o, como deve ser feito. Poupe a vida de meu protegido, faça-o por mim. Eu irei buscar exílio, retornarei apenas quando Zychnyr estiver no poder.
Ela beija as mãos de Lucian e se retira. Os três conselheiros continuam em silêncio. A reunião se estende até o fim da noite. A decisão é unânime, Zilan cairia em dois dias.