Lucian despertou nas primeiras horas após o adormecer do sol. Foi até a escrivaninha de seu quarto e escreveu uma carta destinada a Caio Zayed, informava uma mudança de planos. A visita de Lilith na noite anterior mostrou as verdadeiras intenções do governante inglês. Zilan não atacava a potencia França, ele pretendia assassinar Baudelaire e impedir que o país se recuperasse de um possível golpe. Lacrou o envelope e desceu as escadas, deparando-se com Johann no hall. Curiosamente, o germano segurava uma carta em mãos, com o símbolo da família Köhler. Lucian se aproxima:
- Não sabia que o amigo possuía correspondentes.
- São apenas negócios ordinários, Lucian. Nada demais.
- Se não fosse nada demais não teria o símbolo da família e tantos documentos dentro deste envelope. Johann, tu não podes enganar-me. Eu sei o que há nesta carta. Caso qualquer outra pessoa me contasse, eu duvidaria. Na minha opinião, é precipitado de sua parte.
- Não é compaixão, como o senhor pensa. É apenas uma questão de senso, de respeito a memória de Joseph e uma forma de agradecer a prestação de serviços.
- O que há de tão especial na menina?
- Ela me lembra Margot.
- Margot não nos diz mais respeito. Se um dia ainda tivermos algo a resolver com ela, será no dia que Zilan decidir usa-la.
- Ele não seria louco.
- Não duvido que ele o fizesse, mesmo ela sendo uma criança.
Baudelaire eleva o indicador até os lábios e aponta com a outra mão para a porta da cozinha, que estava se abrindo. A camareira entra no cômodo e, sorrindo, espera orientações. Johann toma a iniciativa:
- Senhora, eu gostaria de enviar esta carta a casa do juiz Bohrer e encerrar os serviços.
O cocheiro carrega as malas até a carruagem, Lucian chama o serviçal:
- Entregue esta carta para o senhor Caio Zayed, mas deve ser em mãos. Se o sigilo desta encomenda for quebrado, tu pagarás com a tua vida.
O homem monta um cavalo e recebe uma sacola com algumas moedas de ouro para financiar a viagem. Baudelaire e Köhler entram no celeiro, onde o cocheiro arrumava as bagagens. Dez minutos depois outros dois homens chegam para ajuda-lo. Carregam duas grandes caixas de madeira e colocam em um outro carro de cargas. Seguem seus caminhos.
A carruagem chega em quatro dias a fazenda, a noite caia estrelada. Um homem os aguarda na entrada da mansão. Zayed era um homem de constituição considerável, possuía ombros largos e pernas fortes, mas seus músculos não eram tão desenvolvidos quanto os de Lucian. O corpo mais leve lhe garantia agilidade. Sua pele era clara, um pouco mais escura que a de Johann, os olhos eram de um castanho médio e os cabelos loiros caiam em cachos sem forma até a metade de seu pescoço. Vestia um thoub de algodão cru. Cumprimenta primeiramente Johann, beijando-lhe a face. Em seguida beija os pés de Lucian.
Caio era considerado o braço direito de Baudelaire. Havia nascido em Roma e servido ao Império durante a tomada da Pérsia. Quando homem e vampiro se cruzaram pela primeira vez, Lucian o requisitou para sua guarda pessoal. Poucos anos após a morte de cristo, ele escreveu uma carta ao patriarca da família Zayed, era um amigo muito próximo, pediu para que Caio fosse treinado e iniciado a vida eterna. Vicious levou-o para o Irã e tornou-o um mercenário renomado, transformando-se no membro mais procurado das forças orientais. Em poucos anos, Caio virou o herdeiro da família Zayed.
- Perdoem-me pelo atraso, precisei resolver alguns assuntos na Índia. Acredito que ficarás feliz, Lucian, ao saber que encontramos uma série de pergaminhos que não se encaixam em nenhum registro, a não ser em algumas cartas adquiridas por Dimitri. Obvio que nosso amigo não revelou a origem das correspondências, mas achamos que os textos podem ser até mesmo mais antigos que o senhor, mestre.
- Ora, devo receber os relatórios de Dimitri em algumas semanas, mas não é por isso que o chamei. Venha, vamos até a biblioteca. Hoje em dia cada palavra age como um punhal no peito de seu orador.
Os servos carregam as bagagens. Os dois caixotes de madeira são retirados, vazios, tendo apenas seu fundo coberto por feno. Os três homens sobem as escadas. Ao chegar no cômodo encontram uma moça com pouco mais de quinze anos deitada na namoradeira próxima a janela. Ela possuía cabelos loiros presos em coque e estava despida. Como em qualquer sociedade, existe uma hierarquia entre vampiros. Muitas vezes o mais experiente é privilegiado, consequentemente, o mais forte. Johann tomou a mão direita de Lucian entre suas mãos, levou-o até a moça e sinalizou para que ele a possuísse.
Baudelaire sentou-se ao lado da jovem, tocou seus cabelos e beijou sua face despertando-a. Assustada, ela o questiona:
- Quem é o senhor? Eu estava colhendo trigo com meus pais quando... como eu vim parar aqui?
Ele franze os lábios pedindo silencio. Em um breve instante ela mergulha nas pupilas rajadas em verde e amarelo, estende a mão esquerda e entrelaça os dedos nas mechas negras dos cabelos do vampiro. O seio explode, o sangue irriga os lábios, ela anseia que ele a toque, puxando-o em direção aos seus lábios, perdendo o controle. Calmamente, Lucian a encaixa em sua cintura, amarrando as coxas femininas e torneadas em volta de seu corpo. Encontra o ponto que deseja, próximo ao seu mamilo direito. Primeiro a língua percorre a pele, como uma sanguessuga espalhando anestésico, depois os dentes se alojam na pele alva, proporcionando um prazer que ultrapassa o orgasmo humano.
Este era o sinal que permitia que Johann e Caio se alimentassem, após a escolha do senhor, seus subordinados sem aproximam da safra e permitem saciar-se. Köhler vai ao pulso, sem encostar muito na vítima. Os dias de viagem lhe deixaram cansado, mas aquele não era seu tipo preferido de sangue. Zayed toma o pescoço, destruindo com a brutalidade como encaixa sua mandíbula no corpo humano. Acostumado a caças rápidas, na calada da noite, ele finaliza antes dos companheiros. O germânico se afasta do corpo também. Lucian coloca seu polegar na jugular da menina, a pressiona por três segundo, os braços pendem sem vida.
Afastam-se, limpam-se. Johann chama o mordomo, ele retira o corpo sem a menor surpresa. Sentados em volta da mesa, iniciam uma conversa que duraria a noite inteira. Lucian explica a situação da Inglaterra, como Caio passara os últimos anos no oriente, apenas visitando-o a cada três meses, ele não estava informado sobre a situação dos governos. Enfim, intrigado com o conteúdo da carta enviada por Baudelaire, diz:
- Senhor, entendo as razões de Zilan, mas não seus métodos. Existem muitas maneiras de encontra-lo, mas não de destruí-lo. Talvez o próprio Satidus pudesse faze-lo, ou algum dos anciões do mediterrâneo, mas não um mercenário qualquer.
- Confesso que a principio acreditei que Zilan fosse ingênuo, imprudente. Jogar tropas contra a França, mesmo que inseridas no meio de uma guerra dos homens, é loucura. Mas quando acompanhei Johann até Dresda, descobri que as batalhas na França serviram apenas para desviar o olhar dos Cainnitas e me afastar do país. Ele já previa que eu me refugiasse, sozinho, logicamente, não confio em nenhum de meus homem, com exceção de ti. Então ele contratou um mercenário e fez um trato com um sucubus. Um casal de amigos e Johann foi executado há algumas semanas, analisamos os corpos e fizemos anotações. A assinatura do assassino é muito parecida com a tua. Creio que seja da mesma ordem.
Ele entrega um papel com o desenho da queimadura que estava na nuca de Marie Van Kirsh. Caio olha de perto o símbolo, pega um pedaço de carvão que estava na mesa do escritório e rabisca algo ao lado do desenho.
- O senhor já ouviu algo sobre Osgliath?
- Claro, ele é a criança de Pámela, a senhora do Nilo.
- Pois bem, mestre, então há mais neste caso do que estamos realmente olhando. Esta é a assinatura de Osgliath, senhor. Ele foi contratado pela Inglaterra, mas Pámela permitiu isso. Eis aqui o brasão
- Ela nunca me trairia!
- Não é caso de traição ou lealdade, é questão de interesse. Existe um principio que qualquer assassino segue, um trabalho só é aceito se não existe riscos para o meliante. Caso Pámela visse algum risco em atacá-lo, ela proibiria Osgliath de trabalhar para Zilan. Existem duas explicações para as ações desta senhora. Ou ela tem interesses em derrubá-lo, Zilan pode ter prometido benefícios, ou ela está sendo chantageada. Eu sugiro que o senhor escolha a primeira opção como base, afinal, trata-se de uma casta de assassinos.
Lucian fica pensativo. Caso o Egito o traísse, os laços entre a França e o Oriente se tornariam muito frágeis, obrigando-o a obter apoio através da violência, como já fizera.
- Há mais uma coisa, Caio. Quando lhe falei em sucubus não especifiquei quem estava a serviço de Zilan. Ele invocou Lilith para caçar-me.
- Impossível! Lilith foi extinta, logo após o achado do esquife de marfim na Itália.
- Não, ela estava em meu quarto há cinco dias. Tentou seduzir-me e alimentar-se de minha essência. Eu a afugentei, mas senti sua presença durante nossa viagem, desaparecendo apenas quando entramos na propriedade.
- Ela não entrará aqui – diz Johann – Minhas terras são protegidas por magia ancestral. Por enquanto, é melhor continuarmos trancados aqui.
outubro 10, 2007
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