dezembro 19, 2007

7º Capítulo – Traição e Sangue

Duas semanas após a visita de Pamela Lucian já estava em domínios ingleses. Zilan ordenara que sua guarda pessoal garantisse a segurança de suas fronteiras. Trinta homens não foram o suficiente para o senhor francês e Caio Zayed. Muitos destruídos e alguns enviados mutilados como aviso para o palácio de York, onde os nobres Braddock moravam. Nesta mesma corte havia um contato que garantia o cumprimento do plano de Baudelaire. Zychnyr era a terceira criança de Satidus, irmão consangüíneo do atual governante, foi abraçado na mesma noite. Segundo uma visão de Margot, o mago do clã, os dois irmão indicavam o equilíbrio e apenas um governo bipartido seria a salvação para seus seguidores.
Zilan era o melhor guerreiro da Grã-Bretanha, sua estratégia e perseverança o levariam a qualquer lugar, se Lucian Baudelaire não estivesse em seu caminho. Nunca havia sofrido uma derrota. Zychnyr era um intelectual dedicado a questões diplomáticas e economia, era responsável pelos planos de desenvolvimentos ingleses. E era na sanidade deste irmão que Lucian buscava uma esperança e abrigo. Sabia que a vaidade e inveja seriam ótimos aliados neste caso. Zilan ignorara a profecia do mago, suas atitudes eram reprovadas pelos vampiros mais antigos. Vestindo-se da ira do irmão mais novo, ele derrubaria o mais velho em apenas uma semana.
Caio e Lucian foram instalados em uma casa de campo na companhia de Lila, esposa de Zychnyr, uma princesa iraquiana que ele roubara para si. Ao serem recebidos, perceberam que as tradições ainda eram fortes naquela mulher. Seu corpo era totalmente coberto e um lenço guardava suas feições, deixando apenas seus verdes olhos expostos, contornados por linhas negras. Os cabelos castanhos médio caiam em cachos bem definidos, ornamentados por tranças e anéis de ouro. Era agradável olhar dentro as íris de seus olhos, limitadas por uma linha amarelada que invadia o esverdeado com rajadas. Sua única comunicação com o mundo, em um tom tão poético que tocou Zayed de alguma forma, despertando seus instintos masculinos.
Era uma quinta-feira, os visitantes foram acomodados em quartos extremamente luxuosos e servidos de duas virgens. Banharam-se e vestiram roupas refinadas. Lila os levou até Zychnyr. Ao ver Lucian, ele se curva e beija suas mãos. Após reverenciar Caio, ele beija a testa da esposa e lhe oferece o pulso. Ela bebia apenas o sangue que vinha do corpo do marido, era uma forma de provar sua fidelidade.
- Senhores, estou tão honrado por recebê-los – ele inicia – Sou imensamente grato pela visita, apenas lamento pela ocasião. Meu irmão tem simplesmente me enlouquecido, não agüento mais ver suas ações impulsivas. Zilan foi longe demais e eu não crio que haja outro jeito de pará-lo, senão derrubando-o.
Lucian sabia que havia hipocrisia naquelas palavras. Não era pela responsabilidade, era apenas vaidade, nada mais. Ele encara aquele homem de 1,79m. Os cabelos negros eram cortados batidos e os olhos castanhos não guardavam nada de especial. Era inclinado a moda e sempre estava impecavelmente vestido.
- Não te preocupes, as ações de teu irmão serão ignoradas, ele não será julgado. Mas eu precisarei retirá-lo do trono – Lucian o encara – Apenas um inglês deve tomar o lugar de Zilan. O povo irá aceita-lo bem, afinal, o cargo é teu por direito.
A conversa perdurou por horas, logo Caio encontrou uma oportunidade para escapar-se. Lila havia se retirado mais cedo. O assassino vai ao seu quarto, abre o baú que carregava seus pertences e retira duas cimitarras, guardando-as embaixo de seu colchão. Enquanto entretinha-se com algumas adagas, ele ouve passos no quarto ao lado, encosta-se na parede para ouvir melhor. Os pés femininos tocam o chão com leveza e precisão. Aquele era o quarto de Lila e ele a reconhece pelo perfume de mirra que entra pela sacada. Arriscando-se ele sai para a sacada, encontrando a moça em trajes noturnos, cabelos soltos e rosto descoberto. As finas feições e lábios marcantes gravam-se na memória dele.
- Durante as noites estreladas agrada-me uma boa cavalgada quando estou em meu país – diz ele – No Iraque a noite é igualmente bela.
- Perdão, não o vi – ela tenta puxar um lenço que estava em sua cintura para cobrir o rosto.
- Não, deixe-o assim, ninguém nos vê e seu rosto me traz uma sensação de calma que não tenho há milênios.
Tímida, ela deixa o lenço cair.
- Sim, as noites são tão belas quanto na sua Palestina.
- Vejo que já ouviste falar de minha pessoa.
- Todos comentam sobre o senhor Zayed, o homem de confiança de Lucian Baudelaire.
- Apenas sou citado por me associarem ao meu mestre.
- Acredito que tu tens certo mistério que cria um clima intenso em torno dos grandes feitos do senhor Baudelaire. Que graça haveria em toda esta história sem os galanteios do assassino Caio, um sedutor.
- Sedutor – ele sorri – Isso soa um tanto quanto agressivo.
- Ora, creio que toda mulher deseja um sedutor em sua vida.
- És bastante solta para uma iraquiana. Falas o que pensas.
- Meu marido me permite essa liberdade.
- E o que mais teu marido lhe permite?
- Senhor – as maçãs do rosto tornam em um tom avermelhado – Não devo me expor desta forma na sacada. Meu mestre não aprova que seus seguidores vejam minha face.
- Se me permites, espero não estar sendo indelicado, mas poderíamos continuar a conversar dentro de alguma sala.
- Serei tão indelicada quanto o senhor. Por que não vens ao meu quarto?
Ele ergue o corpo e fica de pés no parapeito, atravessando para a sacada do quarto de Lila. Sentam-se em um grande tapete de pelo próximo à lareira.
- Vives há muito tempo com Zychnyr?
- Apenas há dez anos, Vicious pediu a meu mestre que me entregasse a Zychnyr para reafirmar alguns tratados.
- Então tu não o amas.
- Ele é meu marido, portanto meu senhor.
- Provaste apenas do sangue de teu senhor?
- Sim. Antes eu era alimentada por sangue de virgens.
- E existe alguma diferença?
- O sangue de Zychnyr é mais forte.
- Não lhe perguntei isso.
- Então o que me perguntaste?
- Tu sentes extremo prazer quando ele permite que haja troca de sangue, quando ele lhe toca?
- Eu não deveria responder isto!
Ela tenta levantar-se, mas Caio a segura e, comprimindo-a contra seu tórax, a beija. Retira sua blusa e, com a unha de seu polegar direito, faz um pequeno corte em sua barriga:
- E agora? Sentes vontade de deleitar-se em meu sangue?
Lila fica muda por alguns segundos. Em seguida atira-se aos braços de Zayed colocando seus lábios no ferimento e, pela primeira vez, utilizando suas presas. Rasga carne e derrama sangue em um êxtase enlouquecido. Ele a afasta.
- Chega, eu não devo profaná-la.
- Não te limites pela imagem que pinto para mim. Esta tela em óleo que está a admirar não é o que sou. Em verdade lhe digo, eu nunca explorei meus instintos e limites, não sei o que sou. Quero que me mostre tudo o que sabes.
Ele retira a camisola em cashimire que cobria as formas torneadas, toca a pele pálida e a toma para seu prazer. Após longo gozo, ele a deixa adormecida e volta para seu quarto. Depara-se com Lucian que o segura pela gola da blusa e levanta-o.
- Estás louco, Zayed? Pretendes arruinar-me? Eu pude ouvi-los com pouco esforço! Não deves tocar nesta mulher, ela não pode seguir seus instintos ou algo terrível despertará dentro dela. Por isso Zychnyr não a toca, por isso apenas a alimenta com seu sangue. O que tu fizeste hoje terá conseqüências terríveis para esta moça. Quanto a nós, teremos sorte se o senhor Braddock não descobrir esta traição.
- Ela é apenas uma mulher, meu mestre. Não se diferencia em nada das outras que eu já toquei. Não me vale nada.
- E mesmo assim a tomaste para ti. – ele o coloca no chão – Não compreendes, mas essa mulher é mais poderosa do que todos pensam. Deixe que os ingleses continuem a subestimá-la, para mim isto é interessante. Quanto a ti, nunca mais a toque, não deves nem chegar perto de suas mãos. Tu a despertarás.

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